O Julgamento Antes do Advento

Texto principal:
"O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o Céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o Seu reino será reino eterno, e todos os domínios O servirão e Lhe obedecerão" (Dn 7:27).

Nota: Como o livro de Hebreus mostra claramente, depois de Sua morte e ressurreição, Jesus começou uma nova fase da Sua obra em nosso favor. Ele Se tornou nosso Sumo- Sacerdote no santuário celestial. As visões de Daniel 7 e 8 revelam que, em algum ponto da História, essa obra celestial de Cristo em nosso favor havia entrado em uma nova fase: o julgamento. Às vezes, isso é chamado de "Dia Escatológico da Expiação". Escatológico, porque se refere ao tempo do fim; Dia da Expiação, porque é prefigurado pelo ritual do Dia da Expiação no santuário terrestre.

Daniel 7, nosso foco nesta semana, contém uma sequência de reinos, simbolizados por quatro animais, que correspondem à sequência de Daniel 2: Babilônia, Média-Pérsia, Grécia e Roma.

Perceberemos que o julgamento é uma boa notícia, porque o Senhor atua por Seu povo. Ele julga em seu favor diante do Universo expectante e lhes concede entrada no reino eterno de Cristo, o clímax de todas as suas esperanças como seguidores do Senhor.

A visão e o juízo
"Um rio de fogo manava e saía de diante dEle; milhares de milhares O serviam, e miríades de miríades estavam diante dEle; assentou-se o tribunal, e se abriram os livros" (Dn 7:10).


Cristo Nosso Sumo-Sacerdote

Texto bíblico:
"Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal Sumo Sacerdote, que Se assentou à destra do trono da Majestade nos Céus, como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem" (Hb 8:1, 2)

Depois de Sua ressurreição e ascensão ao santuário celestial, Cristo entrou em uma nova fase do plano da redenção (Hb 2:17). Com o cumprimento do indispensável requisito de Seu sacrifício, Ele foi empossado como sacerdote e começou Seu ministério sacerdotal intercedendo, com base em Seu sacrifício perfeito, em favor das pessoas cobertas por Seu sangue, mediante a fé. Seu ministério sacerdotal consiste em duas fases, ambas prefiguradas no santuário terrestre por meio do ministério diário e do ministério anual durante o Dia da Expiação.

Nesta semana, estudaremos a obra de Jesus durante Seu ministério diário e veremos alguns desdobramentos práticos de Sua obra em relação a nós. Podemos, de fato, encontrar grande conforto em saber que Jesus agora está na presença de Deus, aplicando em nosso favor os méritos de Seu sacrifício. A mensagem do santuário oferece esperança e encorajamento até mesmo ao mais fraco de Seus seguidores.

Nosso Sumo-Sacerdote
O livro do Novo Testamento que mais fala a respeito de Cristo como sacerdote é o de Hebreus. A espinha dorsal de Hebreus no Antigo Testamento consiste em dois versos citados do Salmo 110. O verso 1 é citado para confirmar que Cristo é exaltado acima de tudo, porque Ele sentou-Se à direita de Deus. Esse é um tema recorrente em Hebreus, que enfatiza a divindade e messianidade de Jesus (Hb 1:3; 4:14; 7:26; 8:1; 12:2). O verso 4 do Salmo 110 é usado para demonstrar que o sacerdócio de Cristo foi prefigurado por Melquisedeque (Hb 5:6).

1. De que forma Cristo cumpre o sacerdócio divinamente prometido, segundo a ordem de Melquisedeque? Compare Gn 14:18-20, Sl 110:4 e Hb 7:1-3

A Bíblia não apresenta muita informação sobre Melquisedeque. No entanto, o que ela revela mostra notáveis semelhanças com relação a Jesus. Melquisedeque é o rei da cidade de Salém (Salém significa "paz". Então ele é o "Rei da Paz"). Seu nome significa "Rei da Justiça", o que fala de seu caráter. Ele é separado da História, uma vez que sua linhagem familiar não é dada; seu nascimento e morte não são mencionados, por isso, parece que ele não teve início nem fim; ele é "sacerdote do Deus Altíssimo". O sacerdócio de Melquisedeque é superior ao sacerdócio levítico, porque por meio de Abraão, Levi deu o dízimo a Melquisedeque (Hb 7:4-10). Melquisedeque, portanto, é um tipo de Cristo.

Porém, Cristo é ainda mais. Arão foi o primeiro sumo-sacerdote em Israel. Hebreus 5:1-4 descreve o ofício sumo sacerdotal aarónico idealizado: nomeação divina, representante dos homens, mediação diante de Deus, compassivo e oferecimento de sacrifícios pelo povo e por si mesmo.

O livro de Hebreus retrata Cristo como o novo Sumo-Sacerdote. Ele é de uma ordem melhor até mesmo que a de Arão; Ele não apenas cumpriu os requisitos do sacerdócio aarónico, mas os ampliou. Jesus não tinha pecado, foi plenamente obediente e não precisou trazer uma oferta por Si mesmo. Ao contrário, Ele mesmo foi a oferta, tendo sido a mais perfeita oferta possível.

Jesus cumpriu tanto o sumo sacerdócio aarónico quanto o sumo sacerdócio de Melquisedeque, de maneira melhor que qualquer um desses sacerdotes, ou sacerdócios, fez ou poderia fazer. Ambos os tipos encontraram seu antítipo em Cristo.

Advogado e Intercessor
2. Que grande esperança e promessa encontramos em Romanos 8:31-34?

O pano de fundo dos versos 31-34 é uma cena de tribunal em que devemos visualizar a nós mesmos sendo julgados. Perguntas são feitas: "Quem será contra nós?" "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?" "Quem os condenará?" Tal situação poderia facilmente provocar arrepios em nós. Afinal, não estamos bem conscientes da nossa imperfeição humana e pecaminosidade?

Porém, não precisamos temer. A promessa de que nada nem ninguém pode nos separar do amor de Deus se centraliza em vários pontos importantes: "Deus é por nós" (v. 31), Deus entregou Seu Filho por nós (v. 32), Deus nos dá graciosamente todas as coisas (v. 32) e Deus nos justifica (v. 33). Jesus Cristo está do nosso lado. Ele é a resposta ao medo da condenação, pois morreu, ressuscitou, e agora está continuamente intercedendo por nós à direita de Deus, no santuário celestial (v. 34).

Se Alguém chegou ao ponto de morrer voluntariamente por nós, devemos confiar em Seu amor. A certeza revelada em Romanos 8:31-39 realmente fala sobre o tipo de Deus em quem acreditamos. Se entendermos que Deus nos ama de tal maneira que nada pode frustrar Seus propósitos para nós (v. 35-39), o tribunal divino se tornará um lugar de alegria e júbilo.

Essa verdade se torna ainda mais clara em 1 João 2:1, 2. A palavra grega parakletos indica um assessor jurídico ou advogado, alguém que aparece em favor de outro como "intercessor". Jesus é nosso Advogado e nos defende porque, de outro modo, não teríamos esperança.

Nosso advogado é "justo", o que nos dá a certeza de que o Pai ouvirá a intercessão de Cristo, porque Ele não poderia fazer nada que pudesse ser rejeitado por Seu justo Pai. Cristo intercede pelos que pecaram: Aquele que não tem pecado Se apresenta como o Justo que os representa.

Como você pode experimentar mais a verdade maravilhosa de que nada vai separá-lo do amor de Deus? Como você pode usar essa certeza como incentivo para viver de acordo com a vontade de Deus?

Mediador
3. "O qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, Homem, o qual a Si mesmo Se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos" (1Tm 2:4-6). De acordo com esses versos, o que Cristo está fazendo por nós no Céu?

Cristo é chamado de único Mediador entre Deus e os homens. Não existe nenhum outro porque, na verdade, ninguém mais é necessário. Por meio da obra de Cristo como Mediador, salvação e conhecimento da verdade são disponíveis a todos (1Tm 2:4). A questão fundamental para todos nós é se aproveitaremos o que Cristo nos ofereceu, independentemente de nosso estatuto, etnia, caráter ou ações passadas.

"Mediador" é um termo do antigo mundo comercial e jurídico da Grécia. Ele descreve alguém que negocia ou atua como árbitro entre duas partes, para remover uma discórdia ou para alcançar um objetivo comum, a fim de estabelecer um contrato ou aliança.

Em Hebreus, Cristo como Mediador está ligado à nova aliança (Hb 8:6; 9:15; 12:24). Ele fez a reconciliação. Embora o pecado tivesse destruído a íntima comunhão entre a humanidade e Deus, o que poderia ter levado à destruição da humanidade, Cristo veio ao mundo e restaurou a conexão. Isso é reconciliação. Somente Ele é o elo entre Deus e a humanidade. Por meio desse elo podemos desfrutar pleno relacionamento de aliança com o Senhor.

A referência de Paulo a Ele como "Cristo Jesus, homem" expressa Sua qualidade única de ser tanto humano quanto divino (1Tm 2:5). Salvação e mediação estão ancoradas precisamente na humanidade de Jesus e na voluntária oferta de Si mesmo. Por ser, ao mesmo tempo, Deus e homem, Jesus é capaz de ligar o Céu e a Terra com laços que nunca podem ser rompidos.

"Jesus Cristo veio ao mundo para que pudesse unir o homem finito com o infinito Deus, e conectar a Terra com o Céu, que, pelo pecado e transgressão se haviam divorciado" (Ellen G. White, Sermons and Talks, v. 1, p. 253 [Sermões e Palestras, v. 1, p. 253]).

Pense nisto: há um Ser divino-humano no Céu, agora, intercedendo em seu favor. O que isso diz sobre seu valor aos olhos de Deus? Como essa verdade deve impactar sua maneira de viver e tratar os outros?

O grande Sumo-Sacerdote
4. O que os textos a seguir revelam sobre o ministério de Cristo como Sumo-Sacerdote? Hb 2:17, 18; 3:6; 4:14, 15; 7:24-28; 8:1-3

Jesus é o "grande Sumo-Sacerdote" (Hb 4:14). Ele é superior a todos os Sumos-sacerdotes e governantes da Terra. A Bíblia atribui uma série de qualidades a Jesus como grande Sumo-Sacerdote:

Misericordioso e fiel (Hb 2:17). Essas duas características se harmonizam com o papel de Cristo como Mediador, pois Ele nos concede Seus dons ("misericordioso") e é leal a Seu Pai e a nós ("fiel").

Ele Se compadece das nossas fraquezas (Hb 2:18; 5:2, 7). Uma vez que Ele viveu como ser humano, podemos crer que Ele é um compassivo e perfeito Ajudador. No entanto, Ele não está na mesma situação em que nós estamos, porque é "sem pecado" (Hb 4:15).

Ele está acima de nós. Como Sumo Sacerdote, Jesus não está na comunidade dos cristãos, como Moisés esteve entre os israelitas. Ele está acima de nós, como um Filho que preside a casa de Seu Pai (Hb 3:6). Cristo desfruta de plena autoridade entre os santos.

Ele foi tentado como nós somos. A origem divina de Jesus não Lhe deu direitos exclusivos. Ele foi tentado à nossa semelhança (Hb 4:15). As tentações escolhidas no deserto da Judeia mostram que Ele foi tentado nas dimensões física, mental e espiritual (Mt 4:1-11).

Ele intercede por nós. Cristo comparece "por nós" no santuário celestial, na presença de Deus (Hb 9:24; Hb 7:25). Graças a Deus que temos um Representante divino para Se apresentar no julgamento em nosso lugar.

Jesus está no Céu "por nós". O que significa isso? Que certeza e segurança você encontra nessa maravilhosa verdade?

O Único Sacrifício
Como vimos, um propósito essencial do ritual do santuário terrestre era revelar, por meio de símbolos, tipos, e profecias em miniatura, a morte e ministério sumo sacerdotal de Jesus. O pecado é algo terrível demais para ser resolvido meramente com a morte de animais (por mais tristes e infelizes que essas mortes tenham sido). Em vez disso, todo aquele sangue derramado devia apontar para a única solução para o pecado, a morte do próprio Jesus. O pecado é, na verdade, tão perverso que foi necessária a morte dAquele que era igual a Deus (Fp 2:6), a fim de expiar o pecado.

5. Leia Hebreus 10:1-14. Como essa passagem contrasta a função e obra do ritual do santuário terrestre com a morte e ministério sumo sacerdotal de Jesus?

Muitas verdades cruciais ressoam desse texto. Umas das mais importantes é que a morte de todos aqueles animais não foi suficiente para resolver o problema do pecado: "É impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados" (Hb 10:4). Eles apenas apontavam para a solução, mas não eram a solução. A solução era Jesus, Sua morte e Seu ministério no santuário celestial em nosso favor.

Observe outro ponto crucial nesse texto: a suficiência total da morte de Cristo. Embora os sacrifícios de animais tivessem que ser repetidos muitas vezes, dia após dia, ano após ano, o sacrifício único de Jesus foi suficiente (afinal, considere quem foi sacrificado!) para expiar os pecados de toda a humanidade. Deus revelou poderosamente essa verdade fundamental quando o véu interior do santuário terrestre foi rasgado de modo sobrenatural, após a morte de Jesus (Mt 27:51).

Considere os danos, a dor, a perda, o medo e o desespero causados pelo pecado. Como podemos aprender no dia-a-dia, momento a momento, a nos apegarmos a Jesus como única solução para o problema do pecado em nossa vida?

Estudo adicional
Leia no SDA Bible Commentary [Comentário Bíblico Adventista], v. 7A, Apêndice C, p. 680-692: "The Atonement, Part II – High-Priestly Application of Atoning Sacrifice" [A Expiação, Parte II – Aplicação Sumo Sacerdotal do Sacrifício Expiatório].

"Afaste-se da voz de Satanás, deixe de fazer sua vontade, e permaneça ao lado de Jesus, mantendo os atributos de Jesus, o Possuidor de ternas e finas sensibilidades, que pode tornar Sua própria a causa dos aflitos e sofredores. O homem que muito foi perdoado, amará muito. Jesus é o Intercessor compassivo, misericordioso e fiel Sumo Sacerdote. Ele, a Majestade do Céu, o Rei da glória, pode olhar para o homem finito, sujeito às tentações de Satanás, sabendo que sentiu o poder das artimanhas de Satanás" (Ellen G. White, Christian Education [Educação Cristã], p. 160).

"A consciência pode ser libertada da condenação. Pela fé em Seu sangue, todos podem ser aperfeiçoados em Cristo Jesus. Graças a Deus por não estarmos lidando com impossibilidades. Podemos pretender santificação. Podemos fruir o favor de Deus. Não devemos estar ansiosos acerca do que Cristo e Deus pensam de nós, mas do que Deus pensa de Cristo, nosso Substituto" (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 32, 33).

Perguntas para reflexão
1. Leia Hebreus 2:17. Por que foi necessário que Jesus Se tornasse humano e sofresse antes que Se tornasse nosso Sumo-Sacerdote?

2. Pense nas seguintes palavras: "Não devemos estar ansiosos acerca do que Cristo e Deus pensam de nós, mas do que Deus pensa de Cristo, nosso Substituto." Como isso nos ajuda a entender o conceito de ser aperfeiçoado "em Cristo Jesus"?

3. Nosso Sumo-Sacerdote, Jesus Cristo, é a certeza da nossa salvação. Ele aplica os efeitos e benefícios de Seu sacrifício e sangue. Com Ele ao nosso lado, não temos nada a temer. Como podemos tomar essas verdades maravilhosas, expressas no livro de Hebreus, e aplicá-las a nós mesmos, especialmente em momentos de tentação?


4. O livro de Hebreus diz claramente que o sacrifício de Jesus, de "uma vez por todas" (Hb 9:26), foi tudo o que era necessário para resolver o problema do pecado. O que isso deve nos dizer sobre qualquer prática religiosa que pretenda repetir esse sacrifício tendo em vista o perdão dos pecados?

Cristo, Nosso Sacrifício

A obra da redenção não foi um pensamento posterior na mente de Deus, nem uma improvisação, um plano B, resultante de uma surpresa introduzida pelo pecado e suas consequências. Ao contrário, o plano divino para a salvação da humanidade foi formulado antes da fundação do mundo. O vidente de Patmos se refere ao “Cordeiro que foi morto, desde a fundação do mundo” (Ap 13:8). Um aspecto central na obra da redenção é o sofrimento e morte de Jesus. Por essa razão, afirma-se que, no coração da religião cristã, encontra-se uma cruz. Sobre essa cruz, Deus lidou com o problema introduzido pelo pecado e realizou a salvação do pecador.
Historicamente, a cruz se situa no tempo há uns dois mil anos. Entretanto, podemos dizer que essa cruz, antes de ser erguida no Calvário, foi planeada no coração de Deus desde a fundação do mundo.

Devido à sua importância, é extremamente perigoso o pensamento de que a morte de Jesus não seja substitutiva. Alguns consideram o pensamento da substituição como irrelevante, ou muito violento, ou mesmo insuficiente.
Mas qual é o conceito bíblico? Isto é o que estudaremos nesta semana.

Jesus em Isaías 53
Alguns autores consideram o texto de Isaías 52:13-53:12 como o mais importante do Antigo Testamento. Independentemente da importância que lhe é atribuída, ele é o mais citado/aludido no Novo Testamento, visto ser uma das mais completas descrições da obra redentora do Messias. Com ela se anunciava, sem margem para dúvidas, que a única solução para o problema introduzido pelo pecado seria a obra do Servo do Senhor.

Isaías 53 fala de rejeição: o Servo foi rejeitado enquanto viveu (53:1-3). E o clímax da rejeição ocorreu na morte do Servo (53:4-9). Por que morreu? Que significado tem Sua morte? Ele morreu em nosso lugar, como nosso Substituto. Sua obra foi em nosso favor. Não morreu por causa de Seus pecados, visto que não pecou, e sim, por causa dos nossos. Teologicamente, foi uma morte expiatória e uma expiação vicária.

A morte do Servo foi iniciativa divina, evidência de Sua graça, livremente estendida ao pecador. No verso 6 lemos que “o Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de todos nós”, uma linguagem que nos remete a Levítico 16.

O verso 7 declara que o Servo foi levado como um Cordeiro  ao matadouro. O cordeiro era o animal mais representativo do sistema sacrifical. Mas aqui estava o verdadeiro Cordeiro, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Ao ser sacrificado, o Messias cumpriu todo o simbolismo dos sacrifícios levíticos, tornando-os desnecessários.

Resumindo a obra realizada pelo Servo sofredor, Ele purificou, carregou as enfermidades, assumiu as dores, o castigo Lhe foi imposto, Seus ferimentos trouxeram a cura, Ele ofereceu a vida em expiação, Ele justificou, entregou-Se à morte e intercedeu pelos outros. Mas o Servo não permaneceria morto. Voltaria a viver. Seria exaltado (52:13) e ficaria satisfeito ao ver que não morrera em vão. Muitos seriam justificados em virtude de Seu sacrifício expiatório.

Essa descrição profética da morte sacrifical de Cristo foi oferecida por Isaías como a única forma eficaz para a expiação do pecado. Cristo Se tornou o que nós somos para que fôssemos restaurados à comunhão com Deus.

Para reflexão: Pense na grandeza da obra de Cristo realizada na cruz do Calvário em seu favor. A obra foi definitiva. Não é necessário repetir-se. Que resposta você tem dado a essa manifestação da graça infinita? Foi por você. Aceite a oferta! O caminho da salvação está aberto. O Messias o espera.

Substituição suficiente
Todo o sistema de ofertas do Antigo Testamento apontava para a morte substitutiva de Jesus. Ele foi a oferta final pelos pecados da humanidade. Não havia outra saída. A salvação se fundamenta no sacrifício único de Jesus. O caminho para a glória passa pelo Calvário. A paixão precede a glória. Não existe glória sem paixão. A cruz precede a coroa. O clamor de Jesus no Getsémani, pedindo ao Pai que, se possível, passasse o cálice adiante, revela de forma inequívoca que o caminho da cruz não podia ser evitado, caso o plano da salvação devesse ser concretizado.

Paulo desenvolveu essa ideia no capítulo 2 de Hebreus. De Seu exaltado estatuto (Hb 1:5-14), recebendo a adoração e o serviço dos anjos, Jesus Se tornou temporariamente inferior a tais seres celestiais. De que forma? Tornando-Se homem e sendo posto à morte. Ele “provou” a morte por, em favor de, e em lugar de, todos os homens. A expressão “provar a morte” descreve graficamente “a realidade difícil e dolorosa de morrer que é experimentada pelo homem e que foi sofrida também por Jesus.” A amargura da morte experimentada “não foi a de um nobre mártir aspirando a um status de santidade, mas como o Salvador, sem pecado, que morreu para libertar os pecadores da maldição da morte espiritual”. O Calvário é o caminho para a reconciliação entre o homem pecador e o Deus santo. Assim, o Calvário, longe de ser uma derrota, é uma estrondosa vitória. Embora, historicamente, a cruz tenha sido o ponto mais baixo na carreira de Jesus, paradoxalmente foi também o mais elevado. Contextualmente, o sofrimento e a morte de Jesus pavimentam o caminho para a glória. Humilhação e exaltação funcionam como dois aspectos complementares de uma única obra. A expressão “coroado de glória e de honra” (v. 9) relembra a investidura de Aarão como sumo sacerdote (Êx 28:2, 40), o que antecipa o argumento posterior de que Jesus é nosso Sumo Sacerdote.

O sangue de Cristo
O dilema humano presente na carta aos hebreus é a contaminação, e o agente para efetuar a purificação é o sangue. Porém, não o sangue de touros e bodes, que pode até realizar uma purificação exterior ou cerimonial, mas não tem o poder de purificar a consciência. O apóstolo apresenta um tipo de sangue superior, o sangue do próprio Cristo. Em muitas ocasiões, o autor destaca a superioridade do sangue de Cristo em relação ao sistema ritual do santuário, com seus repetidos sacrifícios de animais e consequente derramamento de sangue.

Enquanto o sumo sacerdote entrava no lugar santíssimo do santuário terrestre, com sangue de animais, apenas uma vez ao ano – acesso limitado –, Cristo entrou com Seu próprio sangue no santuário celestial para sempre – acesso ilimitado. A obra de Cristo em Hebreus é enfatizada por meio das repetidas referências a Seu sangue, que assegura o perdão a quem O aceitar. Seu sangue, sendo superior, foi derramado uma vez para sempre para purificar os pecados. Seu sangue nos aperfeiçoa e nos torna santos. Naturalmente, não se trata do sangue de Cristo em si, mas da ação de Se oferecer a Deus como um sacrifício sem mácula (9:14) e os resultados positivos para aqueles que se apropriam de Sua oferta de perdão e purificação.

Para reflexão: Temos permitido que o sangue salvífico  de Cristo realize, com todo o seu poder, tudo aquilo que é capaz de fazer em nossa vida? Seu poder purificador tem atingido cada área de nossa vida, ou temos limitado seu acesso e assim conservado algum “pecado acariciado”?


Sacrifício imaculado
A lei ordenava que o animal oferecido em sacrifício no santuário devia ser perfeito. A razão para isto é que ele simbolizava a Cristo, a oferta sacrifical por excelência. O apóstolo Pedro deixou isso bem claro quando afirmou que fomos resgatados pelo “precioso sangue, como de Cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pe 1:18, 19). Não é possível ao homem oferecer alguma coisa por si mesmo, visto que é naturalmente imperfeito. Somente o Substituto celestial pode expiar os pecados da humanidade. Ao homem compete apenas aceitar a oferta graciosamente oferecida pelo Céu em seu favor.
Jesus Cristo é a oferta perfeita: “santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores” (Hb 7:26). Embora tenha sido tentado em todas as coisas, Jesus nunca cedeu à tentação. Era sem pecado e não cometeu pecado algum. A expressão “a Si mesmo Se ofereceu sem mácula a Deus” (9:14) indica porque o sacrifício de Cristo é “absoluto e final.” Ao qualificar Cristo como “sem mácula” (ámomon - ἄμωμον) o autor nos remete aos sacrifícios realizados no santuário. Esse termo denota a ausência de defeitos no animal sacrifical (Nm 6:14; 19:2). Com isso é enfatizada a perfeição do sacrifício de Cristo. Jesus é não apenas o Sumo Sacerdote sem pecado (4:15; 7:26), como também a vítima “sem mácula”. A oferta de Si mesmo a Deus, sem mácula, foi a culminação de uma vida de perfeita obediência (5:8-9; 10:5-10).

Para reflexão: Como professo seguidor de Cristo, entendo o chamado para ser santo e irrepreensível (Ef 1:4)? O que está faltando em minha vida para que se realize em mim o propósito de Deus?

Um grande perigo
Paulo demonstrou a superioridade de Jesus mediante diferentes comparações, exaltou a suficiência de Seu sacrifício, de Seu sangue que purifica nossa consciência, assegurando-nos uma santa ousadia para entrar à presença de Deus. Entretanto, em alguns pontos ele apresenta advertências que vão se tornando progressivamente mais sérias, e que merecem nossa profunda consideração.
Em primeiro lugar, ele advertiu contra o perigo de abandonar a verdade (Hb 2:1-4). A seguir, advertiu acerca do perigo de não entrar em Seu repouso por causa da dureza do coração (3:8-11). Depois, há o perigo de não alcançar a maturidade espiritual, caindo pelo caminho, após tudo o que alguém experimentou na vida cristã, e não mais ser levado ao arrependimento (6:4, 5). O resultado disto é uma expectativa aterradora de juízo e do fogo que consome os inimigos de Deus (10:27). Viver deliberadamente em pecado após alcançar o conhecimento da verdade é algo muito sério (10:26). Com isso é novamente crucificado o Filho de Deus e exposto à ignomínia (6:6). É calcar aos pés o Filho de Deus e profanar o sangue da aliança e ultrajar o Espírito da graça (10:29). Esse é um tipo de apostasia que pode levar a pessoa a rejeitar definitivamente a Cristo.
Como exposto na lição, “poucos cristãos rejeitariam abertamente o sacrifício de Cristo, ou mesmo pensariam em algo semelhante”. O perigo é que sutilmente podemos assumir uma posição com respeito às realidades espirituais que termine em completa apostasia. Por isso, é necessário que estejamos atentos a nós mesmos, à nossa vida espiritual, aos exercícios espirituais – comunhão, relacionamento e missão.

Para reflexão: De alguma forma sutil, estaríamos nós abandonando as verdades da salvação? A fé entregue aos santos? O que podemos fazer para renovar nossa fidelidade a Cristo?

Conclusão
Jesus morreu em meu lugar. Ele é meu Substituto. Pagou com  sangue o preço da minha salvação. Por que, então, muitas vezes me encontro negociando com Deus o tipo de discipulado que desejo oferecer-Lhe? Não entendo que, agindo assim, estou amesquinhando a morte de Cristo? Por que é tão difícil para mim, pecador, entregar-me completamente a Cristo? O que posso fazer?

Para mais informações, ver Millard J. Erickson, Christian Theology, 2ª ed. (Grand Rapids, MI: Baker, 2004 [7ª impressão]), 818-840; Raoul Dederen, ed., Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia (Tatuí, SP: CPB, 2011), 193-205.
Gerhard von Rad, Teologia do Antigo Testamento (São Paulo: ASTE, 1974), v. 2, p. 248.
Para uma análise do significado da preposição hyper, usada em Hebreus 2:9, ver Erickson, p. 831.
Johannes Behm, Theological Dictionary of the New Testament, v. 1, p. 677.
S. J. Kistemaker & W. Hendriksen,  New Testament Commentary: Exposition of Hebrews (Grand Rapids: Baker Book House, 1953-2001), v. 15, p. 67.

W. L. Lane, Word Biblical Commentary: Hebrews 9-13 (Dallas: Word, Incorporated, 2002), v. 47B, p. 239.

O Dia da Expiação

Verso Principal:
"Quem, ó Deus, é semelhante a Ti, que perdoas a iniquidade e Te esqueces da transgressão do restante da Tua herança? O Senhor não retém a Sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar" (Mq 7:18, 19).
O Dia da Expiação, ou Yom Kippur, conforme revelado em Levítico 16, é o ritual mais solene do Antigo Testamento. Ele foi intencionalmente colocado no centro do livro de Levítico, que está no centro dos cinco livros de Moisés, para ilustrar o "santíssimo" caráter desse ritual. Mencionado também como o sábado dos sábados (Lv 16:31, International Standard Version), o dia requeria a cessação de todo trabalho, o que é único para um festival israelita anual. Esse fato coloca esse dia justamente dentro do conceito do sábado, um tempo para descansar no que Deus, como Criador e Redentor, fez (e fará) por nós.

A purificação anual
1. Leia Levítico 16:16, 30. O que era purificado no Dia da Expiação?

Ao longo do ano, todos os tipos de pecados e impurezas rituais eram transferidos para o santuário. O Dia da Expiação era o tempo para sua remoção. Havia três partes principais no Dia da Expiação:

1.1. A oferta da purificação pelo sacerdote. O sumo sacerdote sacrificava um novilho por seus pecados, certificando-se de que ele (o sacerdote) estaria puro ao entrar no santuário e realizar o ritual para purificá-lo.

1.2. A oferta de purificação do bode "para o Senhor" (Lv 16:8). Durante o ano, as ofertas de purificação levavam todos os pecados dos israelitas para o santuário. O Dia da Expiação era o momento de remover esses pecados do santuário. Esse processo era feito mediante o sangue do bode "para o Senhor".

1.3. O ritual da eliminação com o bode vivo para Azazel. Deus queria afastar os pecados de Seu povo para longe do santuário e do acampamento. Portanto, outro bode vivo era enviado ao deserto.

2. Leia Levítico 16:15. O que acontecia com o bode mencionado nesse texto, e o que ele simbolizava?

Visto que não havia confissão do pecado nem imposição de mãos envolvidas com o bode para o Senhor, seu sangue não era portador de pecado. Assim, ele não contaminava, mas, em vez disso, purificava. O efeito é claramente descrito nos versos 16 e 20. O sumo sacerdote fazia expiação com o sangue do bode do Senhor, purificando todo o santuário. O mesmo procedimento também efetuava a purificação do povo para que, quando o santuário fosse purificado de todos os pecados das pessoas, elas também fossem purificadas. Nesse sentido, o Dia da Expiação era único, pois somente nesse dia tanto o santuário quanto o povo eram purificados.

O Dia da Expiação era a segunda etapa de uma expiação em duas fases. Na primeira fase, durante o ano, os israelitas eram perdoados. Seus pecados não eram apagados, mas confiados ao próprio Deus, que havia prometido cuidar deles. A segunda fase não se relacionava tanto com o perdão, porque as pessoas já estavam perdoadas. Na verdade, o verbo "perdoar" não ocorre em Levítico 16 nem em Levítico 23:27-32. Isso nos mostra que o plano da salvação lida com algo mais do que apenas o perdão dos nossos pecados, um ponto que tem ainda mais sentido quando compreendido no contexto mais amplo do grande conflito.
Comentário:

Além do perdão
3. Leia Levítico 16:32-34. Qual era a principal tarefa do sumo sacerdote no Dia da Expiação?

A principal função do sumo sacerdote era a de servir de mediador entre Deus e a humanidade. Sua tarefa no Dia da Expiação era imensa. Administrava o sistema do Santuário e realizava diversos rituais de sacrifícios e ofertas (Hb 8:3). Ele realizava quase todos os rituais, exceto o de levar o bode para Azazel ao deserto, embora ele desse a ordem para fazer isso.

No Dia da Expiação, o "grande" sacerdote, como ele também era chamado, se tornava um exemplo vivo de Cristo. Assim como a atenção do povo de Deus se voltava para o sumo sacerdote, Jesus é o centro exclusivo de nossa atenção. Como as atividades do sumo sacerdote na Terra traziam purificação para as pessoas, igualmente a obra de Jesus no santuário celestial faz o mesmo por nós (Rm 8:34; 1Jo 1:9). Assim como no Dia da Expiação a única esperança do povo estava no sumo sacerdote, nossa única esperança está em Cristo.

"O sangue de Cristo, embora devesse livrar da condenação da lei o pecador arrependido, não cancelaria o pecado; este ficaria registrado no santuário até a expiação final; assim, no cerimonial típico, o sangue da oferta pelo pecado removia do penitente o pecado, mas este permanecia no santuário até o dia da expiação" (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 357).

De acordo com Levítico 16:16-20, o sumo sacerdote entrava no lugar santíssimo e o purificava das impurezas rituais, transgressões e pecados. Então, ele transferia todas as iniquidades, transgressões e pecados de Israel para o bode vivo e os enviava, por meio do bode, para o deserto. Assim, todas as falhas morais de Israel eram removidas, o que alcançava o único objetivo do Dia da Expiação: a purificação moral que ia além do perdão. Não era necessário um novo perdão nesse dia. Deus já havia perdoado seus pecados.

Enquanto lutamos para abandonar os pecados, como podemos aprender a depender totalmente dos méritos de Cristo como nossa única esperança de salvação?

Azazel
4. Leia Levítico 16:20-22. O que acontecia com o bode vivo?
O ritual com o bode vivo não era uma oferta. Depois que a sorte era lançada para decidir qual dos dois bodes seria para o Senhor e qual seria para Azazel (bode emissário; em inglês, o termo muitas vezes é traduzido como scapegoat [bode expiatório]), apenas o bode para o Senhor é mencionado como oferta de purificação (v. 9, 15). Por outro lado, o bode para Azazel é chamado de "bode vivo". Ele não era morto, provavelmente para evitar qualquer ideia de que o ritual constituísse um sacrifício. O bode vivo entrava em ação somente depois que o sumo sacerdote terminava a expiação de todo o santuário (v. 20). Este ponto deve ser enfatizado: o ritual que se seguia com o bode vivo não tinha nada a ver com a efetiva purificação do santuário ou do povo. Eles já tinham sido purificados.

Quem ou o que é Azazel? Os antigos intérpretes judeus identificavam Azazel como o anjo caído, principal originador do mal e líder dos anjos maus. Nós o conhecemos como símbolo do próprio Lúcifer.

O ritual com o bode vivo era um rito de eliminação que realizava a remoção final dos pecados, que seriam colocados sobre o seu originador e depois retirados do povo para sempre. A "expiação" era feita sobre ele no sentido punitivo
(Lv 16:10), visto que o bode suportava a responsabilidade final pelo pecado.

Então Satanás desempenha um papel em nossa salvação, como alguns falsamente acusam que ensinamos? Claro que não! Satanás nunca, de nenhuma forma, carrega o pecado por nós como substituto. Só Jesus fez isso, e é uma blasfémia pensar que Satanás tivesse alguma parte em nossa redenção.

O ritual com o bode vivo encontra paralelo na lei da testemunha falsa (Dt 19:16-21). O acusador e o acusado se apresentavam diante do Senhor, representado pelos sacerdotes e juízes. Era realizada uma investigação e, se fosse comprovado que o acusador era uma testemunha falsa, ele devia receber a punição que pretendia para o inocente (por exemplo, o perverso Hamã que levantou uma forca para o leal Mordecai).

Graças a Deus por Seu misericordioso perdão e pelo fato de que Ele não mais Se lembrará dos nossos pecados (Jr 31:34). Como podemos aprender a nos esquecermos dos nossos pecados, uma vez que eles estão perdoados? Por que é tão importante fazer isso?

No Dia da Expiação
"Em tais condições, no ministério do tabernáculo e do templo que mais tarde tomou seu lugar, ensinava-se ao povo cada dia as grandes verdades relativas à morte e ministério de Cristo e, uma vez ao ano, sua mente era transportada para os acontecimentos finais do grande conflito entre Cristo e Satanás, e para a final purificação do Universo, de pecado e pecadores" (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 358).

5. Leia Levítico 16:29-31 e 23:27-32. O que Deus esperava que os israelitas fizessem no Yom Kippur (Dia da Expiação)? Como esses princípios se aplicam a nós, que vivemos no antitípico "Dia da Expiação"?

Se alguém no antigo Israel não seguisse essas instruções, devia ser eliminado e destruído (Lv 23:29, 30). O Dia da Expiação realmente significava nada menos do que vida e morte. Ele exigia completa lealdade para com Deus.

Imagine que alguém tivesse confessado seus pecados durante a primeira fase da expiação ao longo do ano, ou seja, por meio dos sacrifícios diários, mas não levasse a sério o Dia da Expiação. Por seu desrespeito ao que Deus desejava demonstrar nesse dia, essa pessoa teria demonstrado sua deslealdade para com o Senhor.

Isso significa que uma pessoa que professa fé em Deus ainda pode perder a salvação. Como adventistas do sétimo dia, não acreditamos na expressão "uma vez salvo, salvo para sempre", porque a Bíblia não ensina isso. Estamos seguros em Cristo apenas enquanto vivemos pela fé e nos entregamos a Ele, clamando por Seu poder para a vitória, quando tentados, e Seu perdão, quando caímos.

O Yom Kippur de Isaías
Em Isaías 6:1-6, o profeta viu o Rei celestial sentado em um "alto e sublime" trono no templo. A visão é uma cena de juízo que apresenta Deus como vindo para o julgamento (Is 5:16). Isaías viu o verdadeiro Rei, identificado no Evangelho de João como Jesus Cristo (Jo 12:41).

Embora Isaías fosse profeta de Deus e chamasse as pessoas ao arrependimento, entendia que, na presença de Deus, ele estava perdido. Confrontado com a santidade e glória de Deus, Isaías percebeu sua própria pecaminosidade e também a impureza de seu povo. Santidade e pecado são incompatíveis. Como Isaías, precisamos chegar à conclusão de que não podemos passar pelo juízo divino confiando em nós mesmos. Nossa única esperança é ter um Substituto.

6. Que paralelos para o Dia da Expiação aparecem em Isaías 6:1-6?
A combinação de um templo cheio de fumaça, um altar, julgamento e expiação para o pecado e a impureza, lembra claramente o Dia da Expiação. Isaías experimentou seu próprio "Dia da Expiação", por assim dizer.

Atuando como sacerdote, um serafim (que literalmente significa "aquele que arde") tomou uma brasa viva do altar, o que pressupõe algum tipo de oferta, para remover o pecado do profeta. Essa é uma imagem apropriada para a purificação do pecado, que é possível mediante o sacrifício de Jesus e Seu ministério de mediação sacerdotal. Isaías reconheceu isso como um ritual de purificação e se manteve quieto enquanto a brasa tocava seus lábios. Assim a sua "iniquidade foi tirada" e seu pecado perdoado (Is 6:7). A voz passiva no verso 7 mostra que o perdão é concedido por Aquele que está sentado no trono. O Juiz também é o Salvador.

A divina obra de purificação nos leva do "ai de mim!" para "eis-me aqui, envia-­me a mim". Compreender a obra celestial no Dia da Expiação leva à disposição para a proclamação, porque um verdadeiro entendimento conduz à segurança e certeza. A razão disso é sabermos que, no juízo, temos um Substituto, Jesus Cristo, cuja justiça (simbolizada pelo sangue) nos permitirá ficar sem medo da condenação (Rm 8:1). Gratidão motiva a missão. Pecadores absolvidos são os melhores embaixadores de Deus (2Co 5:18-20), porque eles sabem que Deus os libertou.

Estudo adicional

"Ocorre agora o acontecimento prefigurado na última e solene cerimónia do Dia da Expiação. Quando se completava o ministério no lugar santíssimo, e os pecados de Israel eram removidos do santuário em virtude do sangue da oferta pelo pecado, o bode emissário era, então, apresentado vivo perante o Senhor; e na presença da congregação o sumo sacerdote confessava sobre ele "todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados", pondo-os sobre a cabeça do bode (Lv 16:21, RC). Semelhantemente, ao completar-se a obra de expiação no santuário celestial, na presença de Deus e dos anjos do Céu e da multidão dos remidos, serão então postos sobre Satanás os pecados do povo de Deus. Ele será declarado culpado de todo o mal que os fez cometer" (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 658).

Expiação: Oferta da Purificação

Texto principal
"Sabendo que não foi mediante coisas incorruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo" (1Pe 1:18, 19).
 “O salário do pecado é a morte” (Rm 6:23). Sendo assim, todos nós deveríamos morrer, visto que todos somos pecadores. Mas não morremos porque um Substituto assumiu nosso lugar. No sistema do santuário, esta verdade é ilustrada de forma dramática: o animal sacrifical se tornava o portador dos pecados do penitente e, em consequência, morria. Cristo, como Cordeiro de Deus (Jo 1:29), era simbolizado nos sacrifícios rituais. À luz de tais sacrifícios podemos compreender um pouco do sacrifício e ministério de Cristo. Como já visto, o santuário é o meio para solucionar uma situação antagónica: ali é o lugar da morada do Deus santo, no meio de um acampamento repleto de pecadores. Como conciliar essa realidade? Através do sistema ritual, em que os sacrifícios realizados solucionavam o problema da culpa do pecador e restabeleciam a relação entre o Deus santo e o pecador penitente. Devemos atentar para os detalhes de uma legislação que não deixou sequer uma brecha por onde o pecador pudesse escapar. Ao contrário, tudo foi pensado de maneira a resgatar o transgressor e levá-lo de volta a um relacionamento harmonioso com seu Criador.

O sistema sacrifical provavelmente seja a parte mais conhecida do ritual do santuário, porque é a que aponta diretamente para o sacrifício de Cristo. O sangue do animal que morria pelo pecador se torna um símbolo do sangue de Cristo, que morreu por nós.
Nesta semana, estudaremos vários conceitos ligados à "oferta da purificação" (também chamada de "oferta pelo pecado"), que foi a forma designada por Deus para nos ajudar a entender melhor como Ele nos reconcilia consigo mesmo mediante o único e verdadeiro sacrifício: Jesus Cristo. Às vezes, esta lição usa o termo oferta da purificação em lugar de oferta pelo pecado, para evitar a impressão de que, por exemplo, dar à luz uma criança era considerado uma falha moral, uma vez que a mãe que acabava de dar à luz devia apresentar tal oferta (Lv 12:5-8). Esse sacrifício é mais bem compreendido como oferta de purificação por sua impureza ritual, e não como um sacrifício por causa do pecado.

Pecado e misericórdia
Como os que conhecem o Senhor podem testemunhar, o pecado nos separa de Deus. A boa notícia é que o Senhor colocou em prática um sistema para acabar com a separação causada pelo pecado e nos levar de volta para Ele. Evidentemente, o sacrifício está no centro desse sistema.

Existem basicamente três tipos de pecado descritos no Antigo Testamento, cada um correspondendo ao nível de consciência do pecador quando ele cometeu a transgressão: pecado inadvertido ou involuntário, pecado deliberado ou intencional, e pecado de rebelião. As "ofertas de purificação" prescritas em Levítico 4:1–5:13 se aplicavam a casos de pecado não intencional, bem como a alguns casos de pecado deliberado (Lv 5:1). Enquanto havia uma oferta para essas duas primeiras categorias de pecado,
nenhuma oferta foi mencionada para o pecado de rebelião, o tipo mais hediondo. O pecado de rebelião era cometido "na face" de Deus, com mão levantada, e o rebelde não merecia nada menos do que ser eliminado (Nm 15:29-31). No entanto, parece que mesmo nesses casos, como ocorreu com Manassés, Deus oferecia perdão (2Cr 33:12, 13).

1. O que 2 Samuel 14:9 revela sobre misericórdia, justiça e culpa? Leia também Dt 25:1, 2; 2Sm 14:1-11

Deus é justo ao perdoar o pecador? Afinal, não é o pecador injusto e, portanto, digno de condenação (Dt 25:1)?
A história da mulher de Tecoa pode ilustrar a resposta. Fingindo ser uma viúva, conforme orientação de Joabe, ela foi ao rei Davi, buscando seu julgamento. Joabe inventou inventou uma história sobre seus dois filhos, na qual um havia matado o outro, e pediu que ela contasse a Davi. A lei israelita exigia a morte do assassino (Nm 35:31), mesmo que ele fosse o único homem que restasse na família. A mulher suplicou a Davi (que atuou como juiz) permissão para que o filho culpado ficasse livre.

Então, curiosamente, ela declarou: "A culpa, ó rei, meu senhor, caia sobre mim e sobre a casa de meu pai; o rei, porém, e o seu trono sejam inocentes" (2Sm 14:9). Tanto a mulher quanto Davi entendiam que, se o rei decidisse permitir que o assassino ficasse livre, o próprio rei assumiria a culpa do assassino, e o seu trono de justiça (isto é, sua reputação como juiz) estaria em perigo. O juiz era moralmente responsável pelo que decidia. Por isso, a mulher se ofereceu para assumir essa culpa.
Da mesma forma, Deus assumiu a culpa dos pecadores, a fim de declará-los justos. Para que fôssemos perdoados, o próprio Deus devia suportar nossa punição. Essa é a razão legal pela qual Cristo tinha que morrer para que fôssemos salvos.
Comentário: O que fazer com o pecador? Para ser justo, Deus deveria exigir o “salário”, ou seja, a morte (Rm 6:23). Mas, para ser misericordioso, Deus deveria perdoá-lo. Como equilibrar esses dois elementos? Através do sacrifício ritual. Devemos observar que a legislação previa ofertas para o “pecado por ignorância”, isto é, o pecado acidental, não intencional, do sacerdote (Lv 4:3), da congregação (4:13), do príncipe (4:22) e da pessoa comum (4:27). Em comum nesses casos temos a natureza não intencional do pecado e a prescrição de que uma oferta pelo pecado deveria ser apresentada para fazer “expiação”. O resultado? O pecador era perdoado (4:20, 26, 31). No caso da oferta do “príncipe” e da “pessoa comum”, o sangue não era introduzido no lugar santo, ficando sua manipulação restrita ao altar de holocaustos no pátio do santuário. Nos outros dois casos, o sangue era introduzido no lugar santo e aspergido perante o véu e sobre o altar de incenso. Entretanto, o resultado era o mesmo: as pessoas envolvidas eram perdoadas. Era restaurada a comunhão com o Deus santo que habitava o santuário.

Imposição de mãos
2. Leia Levítico 4:27-31. Quais atividades eram realizadas juntamente com o sacrifício?
O objetivo da oferta era remover o pecado e a culpa do pecador, transferir a responsabilidade para o santuário, e permitir que o pecador saísse perdoado e purificado (em casos extremamente raros, a pessoa poderia trazer certa quantidade da melhor farinha como oferta de purificação. Embora essa oferta de purificação fosse sem derramamento de sangue, havia o entendimento de que "sem derramamento de sangue, não há remissão" [Hb 9:22]).
O ritual incluía a imposição das mãos, a morte do animal, a manipulação do sangue, a queima da gordura, e o consumo da carne do animal. O pecador que levava a oferta recebia o perdão, mas somente após o ritual do sangue.

Uma parte crucial desse processo envolvia a imposição das mãos (Lv 1:4; 4:4). A imposição das mãos transferia o pecado para o animal inocente.

Depois que o animal era morto, o sangue derramado era usado para fazer expiação sobre o altar: "Então, o sacerdote, com o dedo, tomará do sangue da oferta pelo pecado e o porá sobre os chifres do altar do holocausto; e todo o restante do sangue derramará à base do altar do holocausto" (Lv 4:25). "Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida" (Lv 17:11). Uma vez que os pecados eram transferidos para o animal pela imposição das mãos, devemos entender a morte do animal como substitutiva. O animal morria em lugar do pecador. Isso pode explicar por que o ato de matar o animal tinha que ser realizado pelo pecador culpado, e não pelo sacerdote.

Da próxima vez que você for tentado a pecar, imagine Jesus morrendo na cruz e veja você mesmo colocando as mãos sobre Sua cabeça e confessando seus pecados sobre Ele. Pensar nisso ajuda a entender o preço do perdão? Como essa ideia pode ajudá-lo a não cair em tentação?
Comentário: O rito da imposição de mãos sobre a cabeça da vítima sacrifical é explicitamente declarado nos casos da oferta queimada (Lv 1:4), a oferta pelo pecado do sacerdote (4:4), da congregação (4:15), do príncipe (4:24) e da pessoa comum (4:29). E o que significava? Nos textos referidos não temos uma informação precisa. Mas no Dia da Expiação, o rito envolvendo o bode para Azazel explicitamente declara que a imposição de mãos sobre a cabeça do animal transferia os pecados para ele (ver Lv 16:21). Encontramos ainda, em contextos não sacrificais, três exemplos em que alguma coisa é transferida por meio da imposição de mãos: (1) Moisés impôs as mãos sobre Josué, o qual recebeu o “espírito de sabedoria” (Dt 34:9; cf Nm 27:18); (2) a dedicação dos levitas, que substituíram os primogênitos do povo de Israel (Nm 8:18); e (3) o apedrejamento do blasfemador, em que a culpa ficava somente com o transgressor, isentando a testemunha (Lv 24:14).

A estrutura do ritual sacrifical envolvia algumas ações: oferecimento do animal sacrifical, imposição de mão (em alguns casos, as duas mãos), confissão dos pecados, morte da vítima, manipulação do sangue (nesse caso, a responsabilidade era do sacerdote), e a queima do animal, ou de sua gordura, fosse fora do arraial ou no altar (dependendo da oferta), o que era um aroma suave ao Senhor. Assim, a oferta sacrifical ia do pecador penitente para Deus.

A partir dos exemplos anteriormente mencionados, pode-se concluir que a observância das atividades rituais resultava em uma transferência dos pecados do ofertante para a vítima sacrifical e desta para o santuário, via manipulação do sangue (ou do comer da carne). O animal sacrificado carregava os pecados e a culpa do ofertante. Desse modo, substituía o ofertante pecador, dando-lhe condições de permanecer na presença do Deus santo.

Para reflexão: O sacrifício de Jesus era tipificado no ritual do santuário. Como você se sente ao entender que Ele carregou sobre Si o seu pecado? Ou seja, entender que seus pecados foram simbolicamente transferidos para o Cordeiro de Deus, o que resultou na morte do Salvador?


Transferência de pecado
"O pecado de Judá está escrito com um ponteiro de ferro e com diamante pontiagudo, gravado na tábua do seu coração e nas pontas dos seus altares" (Jr 17:1).

Após a imposição das mãos e a morte do animal, a atividade seguinte no ritual do sacrifício era a manipulação do sangue. O sacerdote aplicava o sangue sacrifical às pontas do altar. Como o sangue estava envolvido, essa parte do ritual estava relacionada à expiação (Lv 17:11). Se o pecado fosse cometido por uma pessoa comum ou um líder, o sangue era aplicado sobre o altar do holocausto (Lv 4:25, 30); se o pecado fosse cometido pelo sumo sacerdote ou por toda a congregação, o sangue era aplicado sobre o altar interior, o altar do incenso (Lv 4:7, 18).

3. Na transferência do pecado, do pecador para o santuário, o que significava colocar o sangue sobre as pontas do altar?

As pontas eram os pontos mais altos do altar e, como tais, poderiam significar a dimensão vertical da salvação. O sangue era levado à presença de Deus.

Jeremias 17:1 é de especial importância para entender o que acontecia: o pecado de Judá estava gravado "na tábua do seu coração e nas pontas dos seus altares". Embora o texto esteja se referindo a altares envolvidos na adoração idólatra, o princípio é o mesmo: o altar reflete a condição moral do povo. O sangue transferia a culpa do pecado. O sangue colocado nas pontas do altar transferia o pecado do pecador para o santuário, uma verdade fundamental para compreendermos o plano da salvação, revelado no ritual do santuário terrestre, que simboliza a obra de Cristo no Céu em nosso favor.

Uma vez que o sangue levava o pecado, ele também contaminava o santuário. Encontramos um exemplo dessa contaminação nos casos em que o sangue da oferta da purificação respingava acidentalmente em uma veste, que precisava ser limpa, não simplesmente em qualquer lugar, mas apenas "no lugar santo" (Lv 6:27).

Finalmente, a queima da gordura sobre o altar indicava que tudo em torno da oferta da purificação pertencia a Deus (Lv 3:16).
Graças à morte de Jesus, simbolizada por esses sacrifícios, nosso pecado foi tirado de nós, colocado sobre Ele e transferido para o santuário celestial. Isso é fundamental para o plano da salvação.

Como o ritual do santuário ajuda a entender nossa total dependência de Deus para o perdão dos pecados? Que conforto essa verdade traz a você? Que importantes responsabilidades vêm com essa mensagem? (leia 1Pe 1:22).
Comentário: Como foi visto no estudo de segunda-feira, os pecados do ofertante eram transferidos para a vítima por meio do ritual de imposição de mãos e, mediante a manipulação do sangue pelo sacerdote, para o santuário (Pecador > vítima > santuário). Assim, em última instância, o santuário se tornava o receptáculo final dos pecados do povo. Essa situação explicaria a necessidade da realização de um ritual específico para purificar o próprio santuário (ver Lição 6).

O rito de manipulação do sangue da oferta pelo pecado estava vinculado à “classe” do pecador. No caso do “príncipe” e da “pessoa comum”, o sangue ficava restrito ao altar de holocausto – nos chifres e na base. No caso da “congregação” e do “sacerdote”, o sangue era aspergido no véu interior e sobre o altar de incenso. Em ambos os casos, o resultado era o mesmo: os pecados eram transferidos para o santuário, o qual, por assim dizer, assumia os pecados do ofertante. Visto que o santuário era a morada de Deus entre Seu povo, o próprio Deus assumia os pecados do povo, e assim perdoava todos os arrependidos. No caso do cristão, foi Jesus quem assumiu nosso lugar, e morreu como oferta sacrifical, para nos conceder o perdão.

Levando o pecado
4. Leia Levítico 6:25, 26; 10:16-18. Que verdade fundamental é revelada nesses textos?
Ao comer a oferta em um lugar santo, o sacerdote oficiante "[levaria] a iniquidade" do ofensor. A carne dessa oferta não era apenas o pagamento pelos serviços dos sacerdotes (caso contrário, Moisés não teria ficado tão irado com os filhos de Arão por não comê-la), mas ela era uma parte fundamental da expiação.

De que modo o ato de comer do sacrifício contribuía para o processo de expiação? Só era exigido que se comesse das ofertas das quais o sangue não entrava no lugar santo, ou seja, as ofertas do líder e das pessoas comuns. A Bíblia diz explicitamente que, ao comer do sacrifício o sacerdote levaria a iniquidade, o que faria a expiação pelo pecador. O simbolismo de levar a culpa do pecador sugere que ele se tornava livre.

Em hebraico, Êxodo 34:7 diz que Deus "leva a iniquidade", as mesmas duas palavras hebraicas usadas em Levítico 10:16, onde está claro que o ato do sacerdote levar o pecado é o que traz perdão ao pecador. Caso contrário, sem essa transferência, o pecador teria que levar seu próprio pecado (Lv 5:1), e isso, naturalmente, levaria à morte (Rm 6:23).

A obra do sacerdote de levar o pecado de outra pessoa é exatamente o que Cristo fez por nós. Ele morreu em nosso lugar. Concluímos, então, que o trabalho sacerdotal no santuário terrestre tipifica a obra de Cristo por nós, porque Ele assumiu a culpa dos nossos pecados.

"A bênção vem por causa do perdão; o perdão vem mediante a fé em que o pecado, do qual nos arrependemos e confessamos, é suportado pelo grande Portador de pecados. Todas as nossas bênçãos provêm, assim, de Cristo. Sua morte é o sacrifício expiatório pelos nossos pecados. Ele é o grande meio através do qual recebemos a misericórdia e o favor de Deus. Ele é, na realidade, o Originador, Autor, bem como o Consumador de nossa fé" (Ellen G. White, Manuscript Releases, v. 9, p. 302).

Imagine ficar diante de Deus no juízo. Em que você se apoiaria: boas obras, observância do sábado, as coisas boas que fez ou as coisas ruins que não fez? Isso seria suficiente para justificar você diante de um Deus santo e perfeito? Se não, qual é sua única esperança nesse julgamento?
Comentário: O sangue da vítima sacrifical oferecida pelo príncipe ou pela pessoa comum não era levado para dentro do santuário, mas era aspergido nos chifres do altar de holocausto e derramado na base desse altar. Então, de que maneira era feita a transferência dos pecados para o santuário? De acordo com a legislação levítica, o sacerdote oficiante deveria comer uma porção da carne da oferta pelo pecado. Moisés claramente afirmou esse conceito: “Por que vocês não comeram a carne da oferta pelo pecado no Lugar Santo? É santíssima; foi-lhes dada para retirar a culpa da comunidade e fazer propiciação por ela perante o Senhor” (Lv 10:17). A iniquidade foi transferida do pecador para a vítima através da imposição de mão e, da vítima, para o sacerdote, mediante o comer da carne sacrifical. Como resultado, o sacerdote se tornava o portador do pecado e a expiação era realizada. E por que o sacerdote não era punido, nem sua santidade era afetada, visto que era portador do pecado? Porque Deus assim havia prescrito, e habilitado o sacerdócio como um santo instrumento no processo expiatório (ver Êx 28:38).

No caso da oferta pelo pecado do sacerdote, ou da congregação – que incluía todo o sacerdócio – a carne não era comida. Nesse caso, o sacerdote se tornaria o portador de seu próprio pecado e, em consequência, deveria morrer (Lv 22:9). Então, a carne era queimada fora do acampamento e o sangue era introduzido no lugar santo do santuário.

Para reflexão: Jesus é nossa oferta sacrifical e, ao mesmo tempo, nosso Sumo-Sacerdote, que carrega nossos pecados. Como nos sentimos ao refletir sobre estas realidades?

Perdão
5. Leia Miqueias 7:18-20. Que imagem de Deus encontramos nessa passagem?

Os três últimos versos do livro de Miqueias focalizam o relacionamento entre Deus e Seu povo remanescente. De forma bela, o texto descreve por que Deus é incomparável. Ele é incomparável por causa de Sua graça e amor perdoador. A característica marcante de Deus, revelada em Miqueias (e em outros livros da Bíblia), é Sua disposição de perdoar. Miqueias enfatizou esse ponto usando várias expressões para os atributos (v. 18) e realizações (v. 19, 20) de Deus. Seus atributos e realizações são explicados na linguagem do Credo Israelita em Êxodo 34:6, 7, uma das mais amadas descrições bíblicas do caráter de Deus.
Curiosamente, várias palavras fundamentais de Miqueias 7:18-20 também são usadas no Cântico do Servo em Isaías 53, apontando para o fato de que o meio para o perdão vem dAquele que sofre pelas pessoas.

Infelizmente, nem todos apreciam a divina graça salvadora. O perdão de Deus não é barato nem automático. Ele envolve lealdade. Os que experimentaram Sua graça respondem de maneira semelhante, como vemos em Miqueias 6:8, um texto central no livro. Assim como Deus "tem prazer na misericórdia", Ele chama Seu povo remanescente para "[amar] a misericórdia". O povo de Deus imitará o Seu caráter. A vida deles refletirá Seu amor, Sua compaixão e bondade.

Miqueias 7:18-20, com sua ênfase sobre o perdão, é seguido pelo livro de Naum 1:2, 3, com sua ênfase no juízo. Isso revela as duas dimensões do relacionamento de Deus conosco: perdoar o arrependido e punir os ímpios. Deus é tanto Salvador quanto Juiz. Esses dois aspectos do caráter de Deus são complementares, não contrários. Um Deus compassivo também pode ser justo. Sabendo disso, podemos confiar no Seu amor, perdão e justiça final.

Leia Miqueias 6:8. Qual é a vantagem de uma profissão de fé sem os princípios que revelam a realidade dessa alegação? O que é mais fácil: afirmar a fé em Jesus ou viver essa fé, conforme expresso em Miqueias 6:8? Você precisa melhorar nesse aspecto?
Comentário: No livro de Levítico somos lembrados acerca da seriedade do pecado, de como ele nos separa de Deus. O povo de Deus do passado, que contemplava – e mesmo empunhava o cutelo em alguns casos – a morte de inocentes animais, não poderia deixar de perceber sua gravidade. Os animais se tornavam substitutos, que levavam a culpa pelos pecados. Algumas vezes o pecado é por ignorância, outras era deliberado. Não obstante, o perdão é concedido ao transgressor. Sua culpa é expiada e o relacionamento com Deus é restaurado.
Com toda a riqueza de suas cerimónias, o livro de Levítico aponta para um Deus perdoador, que vai em busca do perdido, que não desiste dos pecadores. Contudo, para realizar esse ato salvador, é necessário sacrifício. Agora não mais de animais, mas do próprio Filho de Deus. Ao ser oferecido na cruz do Calvário, Ele Se tornou nosso sacrifício, o portador de nossos pecados, para que pudéssemos receber o perdão e ser restaurados em nosso relacionamento com Deus.

Naturalmente, o cristão verdadeiro, que experimenta a misericórdia e o perdão de Deus na vida, reconhece sua responsabilidade para com os semelhantes, oferecendo-lhes, em seu relacionamento diário, a mesma graça e misericórdia perdoadora que receberam de Deus.

Para reflexão: Tendo sido perdoado por um Deus amoroso, como temos tratado nosso irmão? Nossa atitude é misericordiosa, perdoadora, ou vingadora? O que fazer para que nossa atitude reflita o caráter de nosso Deus?

Comentário de Ellen White:
"Assim como Cristo, por ocasião de Sua ascensão, compareceu à presença de Deus, a fim de pleitear com Seu sangue em favor dos crentes arrependidos, também o sacerdote, no ministério diário, aspergia o sangue do sacrifício no lugar santo em favor do pecador.


"O sangue de Cristo, ao mesmo tempo que livraria da condenação da lei o pecador arrependido, não cancelaria o pecado. Este ficaria registrado no santuário até a expiação final. Assim, no cerimonial típico, o sangue da oferta pelo pecado removia do penitente o pecado, mas esse permanecia no santuário até o dia da expiação" (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 357).